quarta-feira, 4 de março de 2015

Tutorial: como escrever um artigo científico ou trabalho acadêmico em 5 passos rápidos

Bom, este post foi muito pedido, por muita gente... a linguagem e o método acadêmicos deixam a gente meio perdida no começo, e enquanto a gente se adapta, é legal ter uma referência, um manual, alguma coisa que nos oriente... Comigo, peguei o jeito na marra mesmo. Em parte porque ser feminista na academia é bem complicado, mas em parte porque sou cabeça dura e não aceito conselho. Hoje em dia, tenho esta fórmula que funciona bem para mim. Não necessariamente funcionará para todas, mas é como eu disse: enquanto você não pegar o jeito, enquanto não desenvolver o seu método, este tutorial pode servir.

1. Faça um esboço do seu trabalho

O esboço não tem uma estrutura muito diferente das redações que você fazia na escola. A principal diferença é que (espera-se que) você vai se aprofundar mais no assunto que tratar. Eu acho esse esboço uma parte fundamental do trabalho porque, com ele, você não vai se perder. Quando a gente começa a pesquisar, é comum pipocarem várias coisas interessantes, que dão uma vontade danada de falar de tudo ao mesmo tempo: você começa com a relação dos sexos nos contos de fadas, e acaba com um tratado sobre elfos de Tolkien e os Tuatha de Danaam, O esboço fica ali pra te dar o puxão de orelha necessário, para você colocar os pés no chão.

Pode ser que você seja obrigada a se desvirtuar do seu esboço se, por exemplo, a premissa do seu trabalho se provar errada ou inconsistente. Mesmo assim, até chegar a essa conclusão, o esboço deu uma ajudinha ;)

2. Reúna o material que você pretende consultar


Com seu esboço feito, reúna o material que você pretende usar. Eu costumo recolher a maior quantidade possível, para só depois fazer uma filtragem, escolhendo o que vai ser usado de verdade.

No meu caso, como dá pra perceber (ou não) estou escrevendo algo sobre contos de fadas. Os contos de fadas são meu objeto de estudo. Contudo, as próprias coletâneas podem conter informações históricas e políticas sobre os contos, e essas informações costumam estar nos prefácios ou introduções. Quando um livro é editado, existe uma intenção mercadológica por trás disso, e existem volumes compilados e organizados pensando especialmente nas pessoas que precisam extrair daí informações "científicas". Portanto, se você estiver buscando um livro para uma pesquisa, seja lá sobre o que for, procure edições críticas, edições comentadas, dê uma boa olhada na introdução e no prefácio... Vale a pena!

3. Faça fichamentos


Aqui começa o seu trabalho braçal. Pode ser tedioso e tomar seu tempo, mas eu garanto: vale a pena. O fichamento que eu aprendi a fazer consiste em selecionar e copiar, à parte, trechos relevantes do texto que você estiver lendo. Ele é bom porque, uma vez extraída a parte útil, você pode guardar seu livro e consultar apenas o fichamento que fez. Os fichamentos ajudam a memorizar informações, ajudam na compreensão do texto. Eu, por exemplo, tenho uma ótima memória fotográfica: quando leio um excerto copiado, me lembro da página de onde eu o tirei, e de quebra me lembro de outras informações que podem ser relevantes. É por isso que não adianta tentar estudar pelo fichamento da coleguinha: porque ele sempre remete ao texto original de onde a cópia foi feita.

Como vocês podem perceber, eu sou uma pessoa dó século XX, tudo que eu faço é no papel, é na mão. Mas se vocês forem menos obsoletos do que eu, o trabalho fica mais fácil ainda: crie um documento de texto, e com a ajuda da fórmula mágica "copiar + colar", vá criando seu fichamento digital.

4. Conheça bem o seu objeto

Eu acho que li essa história umas trocentas vezes quando era criança...

Essa parte do trabalho é bem traiçoeira, caso você estude algo de que goste, ou algo muito conhecido. A tentação por escrever aquilo de que lembramos é muito grande. Não faça isso nunca na sua vida. Quando se trata de produzir material acadêmico, pesquisa, é importante dissociarmos aquilo de que lembramos do objeto que está diante de nós no presente. A memória afetiva pode deslocar informações, ampliar ou diminuir a importância de elementos do objeto pesquisado. Eu, por exemplo, sempre lia contos de fadas ansiosa pelo momento em que o dragão aparecia: o papel das princesas me era completamente irrelevante - o que não muda o fato de que eu, como qualquer menina, fui influenciada pelas princesas... O ideal é ler de novo, como se você nunca tivesse lido antes.

Uma dica: tenha uma leitura só pra você. Leia por ler, por diversão, por fruição mesmo. Goste, desgoste, tenha uma opinião. Depois, leia como pesquisadora: compare as informações adquiridas em outros lugares com o objeto que está diante de você. Permita-se duvidar de outros pesquisadores, questionar, mas lembre-se de permitir-se concordar.

5. Lembre-se do esboço

Muitas vezes, rola uma tentação de escrever como se não houvesse amanhã, e quem sabe começar um livro. Isso é ótimo se você não estiver trabalhando com prazos de entrega ou limites de páginas. Quando estiver escrevendo, volte ao esboço. Você está acrescentando informações relevantes, condizentes com seus objetivos? Eu sei o quanto dói dar canetadas naquele trabalho lindo, excluir detalhes curiosos ou até mesmo inéditos. Mas o trabalho de edição é necessário. Isso acrescenta qualidade à sua pesquisa: o detalhe que você excluir hoje pode se tornar o tema de um trabalho futuro, e você vai tempo de se dedicar somente a ele. Então, tenha calma e mantenha o foco!

Eu, que não sou boba, escrevi esse tutorial e peguei a carona pra deixar um teaser pra galera. Já que contos de fadas foram tema de bafafá no meu facebook há pouco tempo, resolvi escrever um pouco sobre o tema... mas calma lá, que ainda leva tempo.

Por hoje é só isso mesmo ;)

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